Ayvu Rapyta - Palavra Habitada
Somos um grupo de contadores de histórias
que tem como fio condutor as narrativas contadas e costuradas na roca do tempo das culturas.
Buscamos no prazer das leituras, habitar com sonho e magia no coração das pessoas.
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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Contador de histórias : Caminhos e encantos vivenciais

“Há muito, muito tempo atrás lá em Capanema (Pa), um padre contou que apareceu 4 luas no céu , e era dia! o céu ficou escuro, e o dia virou noite”..... (Raimunda Souza).
Raimunda Souza era minha avó, e quando ela contou essa história provavelmente tinha 7 anos, pois lembro bem, que senti um medo danado! e isso me motivou para seguir seus passos como contadora. A sensação de escutar as histórias de terror que ela contava tocou meu coração. E hoje sigo a trilha do contar e ouvir o encantado universo das histórias.
Minha avó trilhou pelo rico caminho da oralidade, viveu a época das fogueiras onde a noite era o grande palco das emoções de contar e encantar a todos e todas pela força da palavra que percorria o tempo vivencial conectado com a imaginação liberando as sensações presentes no coração.
Ah! a tradição oral ! tão preenchida de encantamentos! Sigo o caminho de minha avó, sou apaixonada pela tradição, e levo a magia e sua potencialidade contando aqui e ali seus saberes.
Descobri nos livros uma outra fonte o da palavra escrita, a história criada por autores que nos emocionam e nos acendem como contadores para contar e soltar ao vento a musicalidade das palavras as quais irão liberar a imaginação permitindo um encontro sintonizado com o coração e assim fluir o efeito do alimento alma que nos preenche ao ouvir a sonoridade das histórias contadas.
Mergulho no rio das histórias e a cada mergulho percebo a vontade do outra vez e quando saio desse estado sinto-me feliz de ser contadora e contribuir com a vitalidade dessa arte que atravessou as fronteiras do tempo e desembocou até os nossos dias para alegrar nossas vidas.
Eh, psiu! Pare um pouco e escute a Menomési (Deusa da memória) ela está soprando e dizendo, vá! Conte histórias você também , mas não esqueça abra o coração e os ouvidos para escutar o vento que trás as palavras pulsando para penetrar em seu ser e lhe alimentar de prazer.
Me despeço, agradecendo a todos e todas que mergulharam comigo nesse momento tão precioso e sagrado das memórias de uma contadora que como outros contadores conta e encanta a vida com histórias.

Maiolina Neves

RECEITA DE ESPERTEZA

Queridos,
o dia das bruxas já passou, mas você pode a qualquer momento encontrar uma pelas esquinas... Então, aí vai uma receita supinpa:

Vou lhe dar uma receita de esperteza.
Anote, corra,vamos, pegue o papel,
Uma caneta, um lápis, qualquer coisa,
Escreve com o dedo...


Tome nota:
Pegue um canto de unha de cotia,
Uma casquinha da maçã do rosto,
Uma folha da planta do pé,
(com chulé ou sem chulé, tudo presta)
Um pedaço do traço da linha da vida,
Um dente de alho escovado
com creme dental do bom hein!)
Pó de dente de galinha ruiva,
Casca de batata da perna,
(pode ser da direita ou da esquerda)
Cabelo de sovaco de minhoca,
Pingos de suor do romeiro do Círio,
O ultimo fio de cabelo torrado da trança de um careca solitário,
Suspiros de arraia,
E por último um chulé de soldado.
Agora misture tudo, Mexa bem.
E beba abestado... Há, há, há, há,...

Heliana Barriga

(escritora paraense)