Ayvu Rapyta - Palavra Habitada
Somos um grupo de contadores de histórias
que tem como fio condutor as narrativas contadas e costuradas na roca do tempo das culturas.
Buscamos no prazer das leituras, habitar com sonho e magia no coração das pessoas.
www.ayvurapyta@gmail.com e também no facebook

sábado, 25 de outubro de 2008

Um pouco de poesia...




AS DUAS FLORES

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.


Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.


Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.


Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Castro Alves

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Menina bonita do laço de fita - Ana Maria Machado

Era uma vez uma menina linda, linda.Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos e bem negros.Apele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laços de fita coloridas. Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar.E, havia um coelho bem branquinho, com olhos vermelhos e focinho nervoso sempre tremelicando. O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha visto na vida.E pensava:- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela...Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?A menina não sabia, mas inventou:­- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela. Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez.Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:- Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha?A menina não sabia, mas inventou:- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi. Mas não ficou nada preto.- Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha?A menina não sabia, mas inventou:­- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto.Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:- Artes de uma avó preta que ela tinha...Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos.E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha. Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado.E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava alguém que perguntava:- Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?E ela respondia:
- Conselhos da mãe da minha madrinha...

Visita da poeta Rita Melém

No dia 4 de outubro de 2008 o grupo Ayvu Rapyta teve a honra de receber a poeta Rita Melém. Foi uma experiência maravilhosa, Rita nos relatou a sua trajetória de poeta, levou uma pilha de livros dos autores que mais admira e que, de alguma maneira, a influenciaram. Contou do seu trabalho como professora e como já formou poetas mirins. O estilo adotado por Rita se chama Hai Kai, é uma forma poética de origem japonesa e significa a arte de dizer o máximo com o mínimo, são poemas curtos, mas profundos. Rita mostrou a diferença entre poema e poesia, os vários formatos de poemas, falou do seu livro “PORTAPALAVRAS” lançado recentemente na XII Feira Panamazônica do Livro e do trabalho de seus colegas, escritores do grupo Extremo Norte. O entusiasmo de Rita nos encantou e passamos a maior parte do tempo só ouvindo sua “palestra” recheada de poemas escolhidos a dedo. Mostrou-nos a beleza do ser mulher, com todos os tipos de sentimentos. Rita é a poesia em pessoa, fala calma, olhar sincero e sorriso cativante. Ao final presenteou-nos com seus poemas, que foram declamados por todos os contadores presentes, em um verdadeiro sarau. As indicações de Rita nos contagiou e muitos de nós queremos ler os poetas que ela apresentou. Ficamos felizes com sua visita e desejamos um próximo encontro. Ainda temos muito que aprender e a poeta ainda tem muito a nos dizer. Foram tantos poemas declamados naquela manhã que nem notamos o tempo passar, poemas tristes, alegres, longos, curtos, clássicos, populares, e alguns tão novos que ainda aguardam publicação. E para ninguém ficar com água na boca, escolhemos três poemas da Rita para compartilhar. Eles podem ser encontrados no livro PORTAPALAVRAS, de Rita Melém, editora Cromos.

Joana Martins

Conto de Fada moderno

Me deixa mal
o tal de lobo mau
que me seduziu
e depois sumiu...













Transitório

Transito por todos os lugares
renovo meus ares
metamorfeio
me recoloco
invoco
revelo anseios
me mostro
me enrosco
nos teus meios...


Nostalgia

No jardim de inverno de mim
sentimentos e palavras fecundam
meu ser neblinado que
amanheceu triste...

p.s: E para completar esse maravilhoso dia cheio de sentimentos e poesia, tivemos a alegria de encontrarmos com a menina bonita do laço de fita passeando pela bosque, exibindo a sua beleza!





Roda de histórias na escola Ida de Oliveira

Mas um recorte de aventuras que não podemos deixar em nós, grupo. E que como numa revoada toma formas diversificadas, horas em quantidade grande, horas pequena, horas lideradas por um, horas por outro e assim vão enfrentando as dificuldades que lhes reserva a natureza. Assim somos também, guiados pelas asas de nossa imaginação seguindo o curso natural do existir onde também passamos por algumas dificuldades, mas não medimos esforços para continuar entremeando fio a fio à condução de nossa história que agora em duplas eu (Gilberto) e Sônia teceremos.
E foi num pouso na escola Ida Oliveira no dia 30 de setembro que enchendo seus corredores de alegria e sonoridade cantamos e encantamos com uma releitura da música :
“hoje tem espetáculo”
Oh raia o sol
Se esconde a lua
Tem contadores no meio da rua (bis)
Mamãe, Papai venha vê titia.
Contando histórias para vizinha.


Pousamos na escola que já contava sobre seus quarenta e cinco anos de história num alimentar de muitas outras histórias de pessoas que por ela passaram e hoje voam em outros grupos ou solitárias.
Foi uma tarde de encantamento, diante de uma colcha de retalhos que nutriu nossa imaginação, fomos costurando e apresentarmos ao deleite das crianças que estavam num numero estimado de 200, um repertório que passeou entre “A menina bonita do laço de fita” e “A cor é o que menos importa”.
E nesse universo fascinante de possibilidades que permiti da forma a nossa imaginação. Fomos transformando o ambiente, que foi tomando outro aspecto, ficando com ar mais noturno e sombrio, surge uma procissão que abriu espaço para as lendas e contos de assombração que deixam os olhos mais vidrados e arregalados de entusiasmo e curiosidade, num misto de medo e prazer percebido na aproximação das crianças para o local onde contávamos. Em tom de cumplicidade abrimos as asas da platéia, agora era chegado o momento de cada um contribuir com suas vivências, e a cada nova participação presenteava se a criança com poemas no coração. Virou festa e então cantando a mesma música do inicio fomos começando a desfazer o ambiente era chegada hora de nos “guardar” nos retalhos que montam a memória afetiva de cada um que encanta-se com a simplicidade das narrativas populares por nós aqui revistadas. Mas esse tecer aqui não se encerra deixamos no final do ponto, uma agulha no fio a espera das mãos que conduzirão o iniciar da costura dos próximos recortes que iram compor a continuidade dessa grande colcha onde habita nossa palavra.

Gilberto Silva