Ayvu Rapyta - Palavra Habitada
Somos um grupo de contadores de histórias
que tem como fio condutor as narrativas contadas e costuradas na roca do tempo das culturas.
Buscamos no prazer das leituras, habitar com sonho e magia no coração das pessoas.
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sábado, 3 de outubro de 2009

Castanhal do Mari mari

Os contadores do grupo Ayvu Rapyta haviam recebido o convite para mais um encontro no mundo encantado de Castanhal do Mari-mari, em Mosqueiro. Na véspera da viagem quase ninguém dormiu, a ansiedade e a preocupação com a hora não permitiram. No dia marcado, ainda estava escuro quando os contadores saíram de vários de pontos da cidade para o local onde a carruagem os levaria ao seu destino. Chegaram com os primeiros raios do sol. A carruagem estava belíssima e os conduziu por lugares maravilhosos, com muito verde, muita luz, muita alegria. Quando da chegada ao porto um navio os esperava, com suas cores vivas, que ficavam ainda mais fortes quando tocadas pelo brilho do sol. Enfim chegaram. Agora o caminho era a pé, andavam sobre tapetes naturais, árvores de todos os tamanhos, cheiro de mato, terra ainda molhada pelo orvalho, caminhos estreitos e tortuosos. O primeiro encontro foi com a virgem de Nazaré, que os abençoou em uma aparição inesquecível, estava entalhada em uma árvore, um milagre das mãos do homem. A caminhada lhes dá mais energia, samambaias azuis lhes sorriem, o tapete agora é florido, tudo é mágico, avistam o campo, tão grande que seus olhos não veem o seu fim. Vento, sol, sorrisos, os contadores estão felizes, encantados pelo lugar, mundiados pelos seres da floresta. O ambiente é propício para músicas, histórias, poemas, é a natureza os alimentando com toda a sua magia. Chegam as crianças trazendo os animais, são grandes, fortes, pequenos, frágeis, elefante, onça, rato, formiga, trazem também os elementos fogo, água, é a festa da natureza, todos em harmonia. Vem a terceira idade com a dança contagiante do carimbó, mostrando a força da juventude que sai de seus movimentos ritmados ao som da música envolvente, de repente, como num passe de mágica, todos se envolvem nessa dança. É Mari-mari em mais um festival do açaí, festa que reúne os povos da cidade e do interior, todos com o mesmo sonho, ser feliz em um ambiente saudável, no qual todos se respeitem e se amem, homem e natureza, em todas as suas formas. E quando você está feliz o seu corpo exala essa felicidade, espalha sorrisos e contamina os demais. E o dia termina, é hora de voltar para casa, alimentados de magia. O caminho de volta traz novas surpresas, caju, quanto caju perfumando o ambiente, pássaros, a pedra do pretinho, calma é preciso pedir licença, chão úmido, o tapete agora é de miritizeiro, muita calma, é escorregadio, silêncio, alguém vigia nossos passos, é a mãe do mato, todos sentem a sua presença, porém apenas alguns a veem, ela só se mostra a quem quer, alguns a chamam de curupira, está ali para proteger a mata e fica feliz quando vê os contadores, dá-lhes passagem e um aceno, é a despedida deles. O navio já os espera, o caminho de volta é recheado de suspiros, risadas, lembranças que serão contadas nas rodas de histórias e nos encontros desses seres encantados que habitam o mundo real e levam encantamento e poesia onde quer que vão.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009