Ayvu Rapyta - Palavra Habitada
Somos um grupo de contadores de histórias
que tem como fio condutor as narrativas contadas e costuradas na roca do tempo das culturas.
Buscamos no prazer das leituras, habitar com sonho e magia no coração das pessoas.
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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO APAGOU

Minha formação como leitor se deu em primeiro, com a leitura das paisagens que guardo das aventuras na pequenice de minha infância.Que giram como roda e cata-vento e me levam voando no tempo, a pousar bem no campo de futebol em terra batida, cercado por duas mangueiras e uma jaqueira, que frondosas nos agraciavam com suas sombras e um vento que nos lambia o rosto.Era o lugar onde a professora Sônia nos levava em algumas manhãs.Manhãs essas que eu aguardava com ansiedade, pois não havia dia certo, podia ser qualquer dia, o que me fazia ficar mais ansioso.
Talvez ela, a professora, não se desse conta que me proporcionava uma leitura singular dos galhos das árvores embalando seus frutos como mãe que embala os filhos e que nos faziam arregalar os olhos e encher de água a boca no desejo de deliciá-los.Da sensação de liberdade que a extensão do campo me dava, diferente da sala apertada que me fazia sentir como um passarinho, não os que eu via no campo livre, mas os engaiolados.Engraçado é que até mesmo o olhar da professora mudava era como se uma mágica acontecesse é tudo mudava nesse dia.
Deve parecer estranho, mas tenho falado de leitura sem se quer ter citado os livros é como a maioria dos Brasileiros eles me foram negado durante muito tempo, logo tive pouco contato com os livros, é devo isso à falta de maior incentivo dos meus professores, pois quase todos falavam da importância da leitura, no entanto dificilmente os viam com livros na mão, exceto os didáticos.
Já no ensino médio a conheci, era a professora Graça essa sim era um espelho que eu adorava admirar e tomar como exemplo.Vivia a volta com os livros, trazia sempre novidades pra turma, falava da leitura com encantamento e brilho nos olhos, nunca visto por mim em outros professores.E o momento de leitura que nunca esqueço foi quando ela nos apresentou “O bicho”, de Manuel Bandeira, começava ai a efervesce a criticidade dentro de mim.

O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira

E depois outras maravilhas foram atravessando meu caminho e me alimentando, não posso deixar de citar Roseli Sousa e Janete Borges dois encantos que me abriram o coração e a alma para o universo mágico e fascinante dos livros.
Hoje emergem sonhos de rios, que nunca antes imaginei navegar, nutrindo e povoando meu imaginário embalando em ondas as minhas memórias, que efervescem na troca singular e coletiva em beleza de relacionar-se com o outro (os) meus estimuladores fieis Marçal, Andréa e Cléa que como finos e seletos gravetos não deixam apagar a chama que apresentam-se em labaredas esvoaçantes e que saltam em vôo, pingando fogo em outros seres também tocados, assim sigo espalhando e repassando Histórias e estórias narradas do coração de minhas vivências na simplicidade da vida cabocla, minhas origens em experiências que maturam meu ser e me impulsionam a cada vez mais mergulhar fundo nesse universo de encantamento, pelo desejo de descobrir, redescobrir, agora em grupo contando e povoando o imaginário de quem ouve a docialidade das escritas grafadas que ecoam nas vozes que conto-a-dores e amores, que causam arrepios e abrem sorrisos. Assim vou rabiscando em espiral as paginas inacabadas de cada dia de minha vida de contador.

Gilberto Silva

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