Ayvu Rapyta - Palavra Habitada
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que tem como fio condutor as narrativas contadas e costuradas na roca do tempo das culturas.
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terça-feira, 30 de setembro de 2008

Chapéu de cuia

Pergunto-me, por que já sendo careca, pretendo colocar uma cuia na cabeça? È como a história que ouvi de um amigo, que contou um trecho do filme “Mulheres à beira de um ataque de nervos” de Pedro Almodóvar, onde uma mulher, em frente ao espelho, coloca uma peruca igual ao seu cabelo. Em resumo: o surreal nos acompanha.
Fiz o primeiro chapéu com cuia, exercendo o amor e o acaso, por exemplo. Fiz a costura da malha preta com linha amarela, pois a vontade bateu à noite (sendo necessário contraste) e por não encontrar a linha preta, comprometendo o acabamento.
Mudando de pau para cacete, sinto saudade de meu avô, que me ensinou a nadar e entre tantas outras vivências. Ele me contou que na mata, quando vamos caçar, precisamos colocar uma cuia em nossa cabeça, pois se o gavião nos atacar ele captura a cuia e não nos leva. De que gaviões eu quero me proteger quando coloco a cuia em minha cabeça?
Vejo uma indumentária da humanidade que algo na cabeça pode conferir proteção, ocultamento e distinção, não necessariamente nesta ordem.
Bem, quando não se tem a moldura dos cabelos, procura-se “sanar”, com algo, por que não, com a cuia?
Uma cuia que cuida de mim, que me dá mingau e que me banha. Feita da cuieira que é nossa árvore de natal, árvore companheira dos pajés.

Pari deitado e feliz,
Marçal
Belém, 22 de setembro de 2008.

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